domingo, setembro 16, 2012

‘Gerações’- Capítulo 14

Mário Rato (Geração 2098)

As notícias da morte de Ricardo Brás pouco demoraram a chegar. Ao mesmo tempo que recebia essa boa nova, Mário era também informado que o seu quartel-general tinha finalmente sido descoberto. Há anos que tentava achar-lhes o rasto, mas os Brás sabiam realmente como esconder-se… Antes que a polícia se lhe antecipasse, enviou homens para vasculhar e pilhar a casa dos Brás. Tendo descoberto, nos arquivos da cave, cada operação e funcionário da Máfia Brás, mandou-os perseguir um a um; os que se convertessem aos Rato seriam poupados e recrutados; os restantes, ficariam sem cabeça. Estas medidas extremas não foram tomadas levianamente. Mário Rato sabia que a ALT3RER vinha a caminho, e esta não era altura para abrir uma guerra com os Brás. Era preciso exterminá-los, do mais alto ao mais baixo posto. Sem os Brás, passariam a ser a única associação mafiosa da cidade – a matança compensava o monopólio que passariam a possuir…

Este é o último. O último dos Brás. Um disparo, e é o fim. Procuravam-no há dias, e agora ali estava, sentado e amarrado à desconfortável cadeira de interrogatório do quartel-general dos Rato. O nome de código tinha escondido a sua identidade até ao momento em que deram com ele. António Rato era irmão de Mário, e sempre vivera obstinado por ser o irmão mais novo, não tendo direito à Máfia do pai. Há cinco anos deixara de ser o braço-direito de Mário, para ter «uma vida para si». Como acabara a servir os Brás, Mário não fazia ideia… Também não se quis rebaixar – admitindo a ignorância – e por isso não lho perguntou. A memória de Mário encheu-se de momentos. Bons e maus, mas sobretudo bons. Lembrou-se de cuidar do irmão, brincar com o irmão, acarinhar o irmão, ir às moças e partilhar conquistas com irmão. E lembrou-se das conversas. Dos sonhos comuns e dos planos combinados; combinados, mas adiados; e de adiados a cancelados; e de cancelados a esquecidos. Mário e António cresceram juntos, mas envelheceram separados. Apercebeu-se que sonhava acordado. Parou, e olhou-o, uma vez mais, nos olhos. Era parecido consigo, mas mais alto e magro. Sempre lhe invejara a altura… Sentia pena. Compaixão. A mão tremia-lhe ao pensar em premir o gatilho. Não o conseguirei matar… Mas como o conseguirei perdoar!? Mário era capaz de perdoar quem nunca o conhecera; quem se juntara aos Brás por afinidade ou necessidade. Mas como perdoaria quem se lhes juntara pela força da traição? Pela traição a si dirigida!… Não podia. Aquele não era o momento de perdoar. Era o momento de agir. E mostrar força… Ergueu o revólver, e destravou a arma. Soltou um «Nunca pensei… De ti não. Nunca esperei isto», sussurrando. O irmão não reagiu; nada tinha a dizer… Nada que evitasse o inevitável… Aceitou a desistência. Dolorosamente, mas aceitou. Deitou a mão ao gatilho… e disparou.

Olhou o irmão, com pesar. Viu-o cair, cabeça contra a mesa. O sangue jorrava, em golfadas fortes, percorria a mesa fria e manchava o chão com um vermelho líquido. Acabou… Respirou fundo, e forçou  uma expressão forte. Acabou, e o jogo mudou. Olhou, determinado, para o futuro. No meio da dor, o alívio sorria pelo estancar de uma batalha de vários anos. Este é o meu momento… Este é o meu dia! Hoje, sou mais forte do que nunca. Hoje, fico pronto para o futuro… Amanhã, nasce um novo mano-a-mano. Venham daí esses agentes brancos, venha daí essa justiça, venha daí essa ALT3RER… Eu cá estarei, para os receber.

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