sábado, setembro 15, 2012

‘Gerações’- Capítulo 13

Ambrósio Fanecas (Geração 2012)

O chefe da polícia combinara um encontro em sua casa. No entanto, quando chegasse a casa, veria apenas uma carta que o remetia a um armazém onde os Ambrósios o esperavam. Fanecas e Fangueiro sentavam-se lado a lado, tão diferentes quanto cúmplices. Os Ambrósios eram provavelmente o grupo criminoso mais activo da cidade, e tinham em Fanecas o seu cérebro e em Fangueiro o executante. Como um cão obedece ao dono, Fangueiro executava sem pensar. A parceria entre os dois incluía o assalto a casas e carros dos clientes do bar de alterne (enquanto estes se encontravam no estabelecimento), ajustes de contas com os quais Fanecas não queria sujar as mãos, e uma série de pequenas tarefas que roubariam tempo ao inteligente investigador cabecilha do duo. Fangueiro julgava receber 50% dos lucros da sua parceria, mas quando recebia 20% estava num dia de sorte. Sorte a minha ter apanhado este cão estúpido, pensava Fanecas. Desta vez, no entanto, a estupidez esticara a corda a ponto de quase rebentar. Fangueiro atropelara uma peã e facilmente fora identificado pelas autoridades, que lhe seguiram o rasto… e os crimes sucessivos! Fangueiro tinha já levado um sermão de meia-noite, quando o chefe Miguel Castro chegou ao armazém. Entrou de sobrolho carregado, carrancudo e chateado. «Escusas de vir com essa cara… Para mim não és mais que um servo, e como bom servo que és, vais tirar essa tromba e pôr uma cara que me agrade a mim.», disse Fanecas. O chefe da polícia respondeu altivamente: «Que eu saiba, precisas mais tu de mim do que eu de ti!». Ambrósio sorriu; com uma calma enregelante, retribuiu: «És quem és porque assim o quis. Em momento algum penses que me és indispensável. Não passas de um mero peão neste jogo de tabuleiro. Com a facilidade que te fiz chefe, te derrubarei e arranjarei um novo. Estamos entendidos?» Era uma pergunta retórica. O chefe Miguel assentiu, retraído, mas nem assim tirou a expressão desafiante, envergada como quem pensa que está no controlo da situação. Bem te enganas, pensou Fanecas.

Miguel contou então o que os seus 2 agentes tinham visto, e o quão idiotas tinham sido os Ambrósios. ‘Aquele’ Ambrósio, pensou Fanecas ofendido. Quando terminou a narrativa dos acontecimentos, Miguel concluiu: «Posto isto, julgo que a nossa ligação terá aqui que ser quebrada. Não tenho forma de dar a volta a esta situação!». Fanecas olhou  Miguel de alto a baixo. Depois, riu alto e com gosto. Riu tanto que lhe vieram as lágrimas aos olhos! Quando se controlou, viu o medo nos olhos pálidos de Miguel Castro. Pouco depois, conseguiu falar: «Desculpa, mas achas-me burro a que ponto? Achas que te deixava fugir como se nada fosse porque encontraste um obstáculo?… Vê-se bem que não vales mais do que a merda que um Fanecas deixa na latrina pela manhã…». «E que farás, se fugir?». Ambrósio não mais riu. Nem sorriu. Desta vez respondeu irado: «Não me voltes a falar assim, animal! Não queiras conhecer o meu mau génio! Queres ser ameaçado? Queres sofrer? Se não queres, cala-te e obedece, cão!» «Mas…» Ambrósio Fanecas não admitiu a interrupção: «Neste momento, tens à porta da tua linda casa dois carros prontos a pegar-te na mulher e na miúda! Queres que as mande chamar? Queres que lhes mostre o quão simpático eu posso ser? QUERES!?…» Lançou-lhe um olhar que matou. Miguel Castro olhou-o, como uma estátua, contendo o choro. Ambrósio não desviou o olhar fulminante.

Um segundo depois, o polícia perdeu a compostura. Ajoelhou-se, de lágrimas nos olhos, e jurou fazer tudo que Ambrósio ordenasse. «Tudo, menos magoar a minha menina… Por favor! Por favor, Ambrósio! Por favor…». Eu sabia que eras um fraco… O amor é a mais forte das fraquezas! Cada lágrima que lhe jorrava do rosto, alimentava a superioridade de Ambrósio Fanecas. Esbofeteou-o e mandou-o recompor-se. Nada há mais forte que a pedra, o aço, o diamante. Esses não sentem. Esses não sofrem… Esses não são fracos! Quando finalmente o polícia parou de chorar, Fanecas falou-lhe. Miguel acatou penosamente as suas ordens: «Apenas preciso que tires os dois agentes de suas casas amanhã, pelas nove da noite, quando o escuro já nos puder encobrir. Dá-lhes uma missão, dá-lhes uma mentira, dá-lhes o que quiseres… Se amanhã estiverem em suas casas pelas nove, é a tua filha quem sofre por eles. Volta a desafiar-me, Miguel. Volta a testar-me. E aí veremos que precisa de quem». Foi então que Miguel abandonou o armazém, em passo de corrida, percebendo o que o dia seguinte reservara aos seus agentes… Não olhou para trás, nem hesitou na sua corrida. Quando mergulhou na escuridão, Fanecas virou-se para Fangueiro e vociferou: «Não me percas este cabrão de vista…»

Brevemente, Capítulo 14

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