As forças começam a faltar. O suor que escorre cara abaixo e não posso limpar, que me faz arder os olhos e lacrimejar, que me chega à boca meio-salgado meio-ácido, evapora antes mesmo de cair-me do queixo para o infinito. Está calor e o sol vai alto. Queima-me o cabelo, a cabeça, quiçá o cérebro também! Queima-me as pontas dos dedos dobrados sobre esta pedra arenosa, quente, áspera, afiada como quem deseja o meu sangue. Cá estou eu, como um pêndulo, aguentando rajada após rajada deste vento desértico que aquece em vez de arrefecer, e desencoraja em vez de animar. Já não seguro o pescoço. Deixo, simplesmente, a cabeça cair e o queixo tocar-me no peito, porque toda a força que me resta tem que concentrar-se lá em cima, no topo dos meus braços esticados, nos meus dedos dobrados sobre o limite da ravina, o extremo do precipício que recuso largar.
Por muito que queira, não me aguentarei aqui para sempre. Sinto a mão esquerda deslizar… Só não larga a pedra, por enquanto, porque está bem cravada nela. Esta pedra, sedenta, também não me deixará cair tão cedo. Quando virá ajuda?… Será que há alguém a caminho? Valerá a pena todo este esforço, todo este sofrimento, todo este adiar dum destino que parece traçado?
Pela enésima vez, tento erguer-me. Mais uma vez, impossível. Pobres bíceps, nem com o dobro da massa me ergueriam deste sufoco. Estou cansado de aqui estar pendurado; cansado de resistir… Quantas vezes me havia passado pela cabeça: que fariam aquelas pessoas que, não tão sortudas como as personagens de filme, ficavam pendentes num precipício onde ninguém viria acudir?… Agora julgo ter a resposta: essas pessoas lutam! Lutam até ao fim, presos a uma esperança que por muito diminuta que seja, existe. Existe, e segura-me a esta pedra tal como o atrito e a dor e o sangue seco. Segura-me na esperança, que alguém há-de vir…
Sem comentários:
Enviar um comentário
Reitero que não serão aceites comentários sem assinatura.