sexta-feira, março 23, 2012

On/Off

As pessoas não são máquinas. Embora por vezes possamos desejar que antes o fossem, a verdade é que a experiência humana não teria o mesmo calor se tal se reproduzisse na realidade. Num breve devaneio posterior à escrita da frase anterior, imagino com voraz apetite um mundo sem os desencaminhados a pregar rasteiras aos demais. Um mundo sem baixeza, limpo de hipocrisia e vazio de podridão. Mas que seria de um mundo sem o toque, o espicaçar, a emoção, a risada do dia e o prazer? Não me consta, pelo menos no presente, que as máquinas esbocem qualquer um dos saudáveis experimentos previamente descritos. Talvez um dia algum engenhoso engenheiro dê um sistema eléctrico tão complexo quanto o nosso sistema nervoso a alguma sortuda (ou azarenta) máquina. No entanto, vejo esse iPerson ainda muitíssimo longe da realidade, não fosse meu corrente apanágio conhecer o complexíssimo e já-referido sistema nervoso humano.

E enquanto, sentados, esperamos que tal gadget se apresente ao mundo por algum novo revelador Steve Jobs, continuamos a ser nós. Pessoas. Que, retomando agora a fonte de tamanho parágrafo de divagação, não são máquinas. É por isso, pela máquina que não somos, que não nos estragamos de um dia para o outro. Exceptuando esse fatal dia sobre o qual já várias vezes escrevi nestas páginas de fundo branco, não mudamos quem somos do dia para a noite. Acordem os que pensam que alguém morreu! Não peçam, no entanto, que não se utilizem algumas das vantajosas similitudes que alguns de nós temos em relação às máquinas. Certo é que nem todos somos iguais, mas a maior parte de nós tem bateria limitada. Outros, talvez menos, têm intrínseco um botão on/off que por vezes preferem desligar para não se dar às vulnerabilidades de ser humano. É certo que uma ou outra luz se podem naturalmente apagar; por tudo de bom há um preço a pagar. O que não invalida que o interruptor não continue lá, esperando melhores dias para se soltar, quiçá mais viçosamente que nunca, quiçá mais humanamente que nunca. O futuro é um livro de páginas brancas. Mas uma coisa é certa; não há desassossego sem remédio nem vida sem risco. Esses hão-de vir. No entanto, não anseiem pelo fim do intervalo. Estúpida, é a ave que sai do ninho sem saber voar.

Até breve, companheiros.

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