Muito silêncio é mal entendido. Na verdade, pouco silêncio é realmente silêncio, no verdadeiro sentido da palavra. O Silêncio, palavra encerrada no seu próprio vazio, espelha uma ausência de ideias, de curiosidade e interesse, de conexão e de partilha. É uma ausência pura de interesse no outro e no que tem para oferecer. Por muito que, quando estamos sozinhos, nos possamos sentir apaziguados e acompanhados pelo silêncio que nos vai reconfortando com a sua calma e tranquilidade, a verdade é que o silêncio num contexto interpessoal se torna constrangedor. Insuportável. Doloroso, até. No entanto, como disse, nem tudo que parece silêncio é silêncio.
Na verdade, reconheço um outro espécime desta família a que, apenas por conveniência de concordância com o nome do blog, chamarei doravante de pseudo-silêncio. Não que fosse necessário fechar a vindoura conceptualização num neologismo, mas porque tudo se torna mais fácil quando podemos chamar por um nome.
Na verdade, o dito pseudo-silêncio pode ser nem mais nem menos que o exacto oposto do previamente descrito silêncio. Isto é: ser não um vazio de interesse, mas uma ávida sede de curiosidade que não sabe por onde começar; uma mescla de perguntas mentais que não sabe como admitir a ignorância, e tem medo de puxar por este ou aquele assunto. Medo de pisar a poça ou tocar onde não deve. Por vezes dou por mim calado porque tenho vergonha de perguntar. Vergonha de falar, e admitir a distância a que estou da realidade. Aperceber-me da distância que se abriu e que quero preencher sem saber como. Aperceber-me que tenho mil coisas para falar e perguntar, mas nem sei como, nem sei quando, nem sei nada. E da agitação interior, sai um vazio de comunicação. Que não deve ser interpretado como desinteresse, mas como ânsia comedida que espera a ignição vinda do outro lado da conversa. Percebo hoje que a ausência de palavras pode magoar bem mais que as palavras erradas na altura errada. Comuniquemos, caros leitores.
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