Nada melhor que estudar as doenças neurológicas e psiquiátricas para nos levar de encontro a anteriores reflexões sobre realidade e ilusão. Na verdade, é simples, embora não fácil, perceber o que vê, sente e experiencia uma pessoa demente, ou com alucinações. Para tal, basta que olhem para a roupa que têm vestidos. Estão a vê-la? A senti-la? Pois bem… É essa sensação, de perfeita e inequívoca noção de ver e sentir, que um alucinante sem roupa sente. Ela está aí, para vocês, mas na verdade não está. Pensarão agora vocês: mas a roupa está aqui, porque eu não sou demente! Pois claro… É exactamente isso o que o demente pensa. Tal e qual. Certeza do que vê, e do que (não) é. É a ilusão perfeita.
Mediante a pergunta ‘como podemos nós saber, então, se somos ou não dementes, se vivemos ou não numa ilusão?’, julgo que a única resposta possível é: não sabemos. Para todos os efeitos, esta é a nossa realidade, tal como a realidade para o nosso vizinho solteiro, é a ilusão perfeita de viver com mulher e filhos que, na nossa realidade, não existem.
Questões ainda mais altas se levantam, quando em vez de pensarmos como indivíduo, pensamos enquanto sociedade, mundo, universo… Ora pensem lá: já alguma vez jogaram o famoso jogo de computador The Sims? Se bem se lembram, é um jogo em que se pode controlar a vida de diversas personagens, criando um mundo próprio a 2 dimensões, numa imitação simplista do nosso mundo, de 3 dimensões; ou 4 dimensões, se contarmos com o tempo. Nesse jogo, ao jeito do tão-especial Inception, podemos pôr a nossa personagem a jogar The Sims no seu próprio computador. Ora, retomando a anterior conclusão de que não podemos, enquanto indivíduo, perceber realmente se tudo o que sentimos e vemos é realidade ou ilusão: se aplicarmos tal conclusão a todo um mundo de personagens, o que nos garante a nós, afinal, que toda a realidade como a conhecemos não é, afinal de contas, uma representação simplista de algo ainda mais completo, com mais liberdade ou dimensões, do que aquilo que conhecemos? Por outras palavras, que nos garante que não somos também marionetas de diversão de uma outra realidade?
Tudo isto se torna ainda mais interessante quando a Ciência se mete ao barulho. Como alguns certamente saberão, a brilhante Teoria da Relatividade Geral não era uma história acabada para Einstein. Depois de conseguir conciliar numa só teoria a análise matemática dos eventos físicos cosmológicos e terrestres, o objetivo do génio era criar uma Teoria-do-tudo, que juntasse numa só Teoria a sua Relatividade com a Mecânica Quântica, o que seria uma gigantesca estrutura matemática capaz de conciliar numa só base de cálculos os fenómenos cósmicos, terrestres e ainda os microscópicos da Quântica. Essa Teoria já não é uma miragem, e actualmente a Teoria das Cordas é uma das propostas a ser desenvolvida e analisada como possível solução para todos os fenómenos físicos. No entanto, esta Teoria tem como base um Universo com múltiplas dimensões, bem mais que as quatro dimensões que actualmente conhecemos. Os Físicos Teóricos falam numa série de dimensões por descobrir, quem sabe até dimensões ocultas. Tudo isto soa incrivelmente estranho, e curiosamente acaba por encaixar na ideia de que um mundo multidimensional possa ver-nos preso em 4 dimensões, tal como nós vemos um desenho preso nas suas pobres 2 dimensões.
Claro que, no final de contas, tudo isto não passa de uma gigantesca divagação nascida de uma conversa nos confins da ECS. No entanto, também nos mostra que ter certezas é, hoje em dia, um puro engano. Porque por muito certos que estejamos de como as coisas são (ou de como não são), a verdade é que podem acabar por ser completamente diferentes do que imaginamos. E percebemos que, por muito louca que uma ideia seja, provavelmente conseguiremos suportá-la em algum facto. No entanto, como bem se vê, esse suporte não a torna verdade… Nem um pouco mais ou menos!
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