Cada vez que falo do meu curso com alguém, reparo no que também eu achava que Medicina era, e aquilo que, agora, sei que é. Se um dia aqui disse que só sabe o que é ser caloiro quem é ou já foi caloiro, também agora seguramente afirmo que só sabe como é Medicina, quem passa pelo curso. Demasiadas vezes passa a ideia de que depois de entrar, o curso é um mar de rosas, carregado de facilidades e materiais/tecnologias. Certo é que, devido à especificidade do curso, muito material, como peças cadavéricas, nos é essencial, sem o ser para os outros cursos. Da mesma forma, a exigência impõe uma maior disponibilidade de materiais, assim como a responsabilidade a que o erro médico está sujeita. Se o trabalho (digno e necessário) de um engenheiro-civil passa por inspecções e verificações, tornando um erro num mal menor, um erro médico muuuuito facilmente leva à iatrogenia, e à morte. Desengane-se ainda quem acredita que quem entra em Medicina sai médico, porque se muitos acham difícil entrar, não experimentem tentar sair. O curso, pelo menos aqui no Minho, tem um grau de exigência psicológica, organizacional, intelectual e dedicatório absolutamente brutal. Muitos sucumbem nas primeiras semanas de curso, muitos desistem por vias incrivelmente exageradas, pondo termo à vida. Só a paixão, pelo curso, pela futura profissão ou tão-simplesmente por tudo e todos os que nos rodeiam, nos consegue aguentar a tamanha pressão a que somos sujeitos, com Exames de x em x semanas, cujo grau de exigência e secretismo é tal, que é capaz de, com perguntas excessivamente profundas ou desadequadas, camuflar o nosso conhecimento, e dar notas miseráveis a quem precisou de mais 18 para poder entrar no curso. Mais do que ver pessoas inteligentes ou aplicadas a chumbar, custa-me ver pessoas que sabem a chumbar. E neste mar de rosas andamos seis anos, aos quais temos que adicionar um Internato e uma Especialidade se queremos algum dia ser médicos. E com tudo isto, apesar de numa semana devermos absorver uma(s) centena(s) páginas de informação de cor e salteado, e ainda mais - bem percebido, a verdade é que a matéria é interessante, o curso é lindo e o conhecimento que se constrói é absolutamente fascinante. Não digo que não valha a pena, ou já não estaria a sofrer todas estas mazelas. O que digo, meus caros eventuais-leitores de secundário, é que devem pensar muito muito muito bem, se o que querem é mesmo mesmo ser médicos. Boa sorte a todos os que se aventurarem ;)
Concordo, é muito interessante, é um orgulho, é um desafio, é difícil, e não acho que seja algo para o qual se tenha vocação. O médico constrói-se na batalha, que para nós está longe de estar ganha.
ResponderEliminarA responsabilidade ao mesmo tempo que assusta é um motor de trabalho.
Cada um com as suas. Espero poder retribuir a este país o que me deu, mas acho que o dinheiro que canalizam para nós é um investimento e não uma acção egoísta de gestão universitária.
Um ponto que eu acho fulcral na discussão que deu origem a este post é a utilidade que os equipamentos têm e o n.º de pessoas que abrangem, e portanto o n.o mais elevado de pessoas que pagam propinas por equipamento. Por ano em Medicina entram sensivelmente o dobro das pessoas que entram nos outros cursos, estamos divididos por turmas, ou seja, a utilização de cada aparelho multiplica. Por outro lado, o curso dura mais anos, sendo que os últimos anos de curso são passados sobretudo no hospital, ora os desgaste das infraestruturas não é muito, no entanto não deixa de existir toda uma estrutura que nos certifica (enquanto profissionais credíveis) e apoia (enquanto estudantes).
É compreensível que uma das primeiras áreas de intervenção seja a saúda, mas a UM em específico também tem interesse em valorizar/credibilizar as outras áreas, exemplo disso a Escola de Enfermagem que está a ser construída. E embora não sejam muito utilizadas para o ensino, mas fundamentalmente para a investigação, também têm instalações novas (a julgar pelo aspecto, obviamente!).
De uma forma ainda mais hipotética, à partida ganharemos mais, logo vamos pagar mais impostos no futuro.
Agradar a todos é impossível. Tentarei fazer a minha parte e evitar o que os impostos dos portugueses (incluindo os dos meus pais) sejam bem empregues!!! Bem Haja :) faço o que gosto.
Magda