O bom livro é aquele se fecha e nos deixa alegres. O livro inesquecível é o que se acaba e nos deixa tristes. Com saudade, com memórias, com a cabeça a funcionar. Um dos defeitos da minha escrita será certamente não deixar que pensem, por expressar com demasiado afinco e clarividência o que penso e quero, opino e magico. As Intermitências da Morte não me deixaram apenas a pensar de cada vez que as pousava após um outro capítulo terminado, como me espantaram a cada nova expressão brilhante que da caneta, ou pena, ou teclado de Saramago, quem sabe, saía enquanto também ele ainda escrevia. Fazendo do teclado minhas mãos e minha caneta, fazendo de vós eu, e de vossos ecrãs o meu papel, aqui deixo também representado o banho de moral, de pensamento puro e bruto, que mais uma vez Saramago foi capaz de me dar, rebuscando, revolvendo, abanando freneticamente a minha cabeça sedenta de novos pensamentos, reflexões e palavras de inteligência e criatividade deixadas, há alguns anos, por este que nos fala pelos livros, que justifica a sua escrita, que se julga e despe, que se critica a si e ao mundo em que a morte decide tirar férias, mandar cartas e apaixonar-se, que não passa senão de uma imagem, não exagerada ou macabra, antes saramagicamente clássica, deste mundo em que vivemos.
Mesmo sendo, e cada vez mais, afincado admirador deste Nobel português, confesso que não peguei neste livro pelo nome que trazia na capa. Quis lê-lo para conhecer a opinião de um ser extraordinário do que será a morte e do que depois dela vem. Nada disso encontrei. Como já disse, não esperava com ele surpreender-me, julguei que já me tinha surpreendido o quanto-baste, e o suficiente para não voltar a cair no engodo das suas palavras tão caracteristicamente ordenadas, pontuadas e atiradas aos cães por muita pobre gente. Enganei-me. Saíram-me três histórias que sendo diferentes eram a mesma, e que se juntavam numa sequência lógica, e aparentemente cíclica. Todas elas imaginadas no mais irreal dos pensamentos de Saramago, bem lá no fundo dos sonhos, todas elas trouxeram também reflexões do mais real que se poderia esperar. Mais que reflexões escritas, há reflexões suspensas que nos convidam a uma longa visita ao mais fundo de nós. Não sei se uma, não se duas, não sei bem quantas, mas certamente irei partilhar algumas das reflexões que me trouxe toda esta leitura. Entretanto, vos deixo a recomendação e o desejo de umas óptimas reflexões. Até breve ;)
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