segunda-feira, julho 11, 2011

Random Short Story (ft. Tiago Brás)

Há quem julgue o livro pela capa, o olho pela cor, ou o touro pelos cornos... Sendo esta menção ao touro valiosa por si só, a verdade é que tal analogia surge como falsa coincidência na introdução desta short story.

Passando por momentos o touro à frente, fique-se sabendo que tudo começara naquelas fastidiosas tardes de secundário em que Abel, depois do desagradável almoço na cantina da escola, era minuciosamente observado e comentado por gregos e troianos em intervalo de almoço. Os seus tiques e expressões chamavam a atenção dos gozões e dos mauzões, tendo Abel começado imediatamente a magicar uma forma de eliminar a sua fama recorrente. Já não bastava ter o nome da primeira personagem bíblica a morrer, e ainda tinha que se haver com rumores despropositados e sem nexo! Não, não… Desta vez, quem morreria não seria o Abel…

Para além dos tiques extravagantes, a mente de Abel era também propensa a extravagâncias na verdadeira assunção da palavra. Foi por isso que, já na Universidade, decidiu dar um golpe final nos rumores sobre a sua sexualidade. Ouvindo um grupo de amigos sussurrando que só nele acreditariam se o vissem com uma ganda toura, Abel decidiu actuar. Se era uma toura que eles queriam, era uma toura que ele lhes daria. Assim, num dia solarengo, em que nada o faria prever, Abel aparece de mãos dadas (se é que se lhe pode chamar mãos) a uma verdadeira toura! Foi riso geral, está claro. Se antes já o achavam estranho, então agora é que era totalmente enxovalhado devido à sua tendência para se meter em situações embaraçosas… Há com cada uma! Coitado do Abel… Mete-se no ridículo por causa do que as pessoas pensam, em vez de viver a vida.

De facto, não é só a avaliação do livro pela capa que aqui devemos encontrar como crítica. Aleatória ou não, esta short story impregna-se de moralismos subjacentes. Também a acção de Abel é ridícula. Tentar provar algo aos outros só porque sim, indo contra a própria maneira de ser? Temos alguma coisa a provar a quem não nos aceita como somos? Em acréscimo, veja-se que nem tudo o que parece é. A orientação sexual é um conceito baseado, como devia ser óbvio, em opções sexuais e não em maneiras de ser. Na verdade, Abel não era nem homo nem heterossexual, mas assexuado [1]. Abel não é, no entanto, o único culpado. Na verdade, a generalidade dos jovens de hoje guia-se por padrões comportamentais reportados pela intensa pressão de uma sociedade em globalização de rotinas e aspectos. Os media, a publicidade e os ideias circulantes fazem nascer um auto-ódio que incite a compra de algo que nos faça melhores. Sejam roupas, cremes ou comidas light, todas elas têm um lado negro. Anorexia, bulimia, stress e depressão vêm atracadas, mas são obviamente ignorados pela sede de dinheiro e poder dos grandes publicitários.

Como última lição de moral, aprender que, afinal de contas, de uma conversa 100% aleatória pode nascer alguma coisa. Um texto, uma história, e até um banho de moral. Bem-hajam as aleatoriedades desta vida.

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