Sinto-me no escuro. Há já longas horas, estou no nada. Sinto-me no vazio negro de um Universo perdido, e sei que já não posso sonhar. Embora longe, sinto-me perto. Sinto-me a ser despido, a ser lavado, a ser vestido. Sinto esta madeira nas costas como se no caixão estivesse. Sei-me perdido, mas tento enquadrar-me e escapar ao nada e ao esquecimento. Tenho toda uma vida para rever por uma eternidade.
Nada mais farei, mas poderei recordar o que outrora consegui fazer. Pelo menos se por aqui, isolado mas pensador, permanecer. Continuo a sentir a madeira… Cada vez mais e mais. Sinto-a, e sinto uma vez mais aquela dor de costas que me condenara. Sinto… Sinto-me a mim! Que se passa!?
Oiço algo uma vez mais… Não vem de fora: vem de dentro! Oiço e sinto o ritmo forte, badalado e quente deste sangue que me volta a correr nas veias. Sinto-o vivo como nunca, correndo alegre porque afinal ainda cá está para as curvas. Vejo a luz ténue através das pálpebras fechadas. Vejo tudo naquela luzinha minúscula, exalto todo o meu ser com o primeiro inspirar desta nova oportunidade. Do nada, sou capaz de inspirar como nunca e encher os pulmões até ao limite. Com a expiração atrapalhada, sai-me um sorriso platónico e um abrir de olhos. É como se voltasse à tona após quase me afogar. Estou vivo! Estou aqui! Afinal de contas, não morri, e estou cá para o que der e vier. A ver vamos, agora, quem me consegue parar!
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