O futuro dos futuros médicos deixou de ser, já o sabíamos de antemão, uma certeza. Perde-se a certeza de estabilidade, a certeza de um posto de trabalho, enfim: todas as certezas. Ou quase todas. Sabemos que, agora, teremos de, tal como todos os outros, valorizar-nos e sobressair. Ter um currículo, uma média já-não-tão-pouco importante, um factor de distinção… Mais ainda, sabe-se desde já que estes, que sobressaírem entre os que sobressaíram, não estarão no serviço público. O bom médico, o médico seguro e de vasto currículo, não vai sujeitar-se ao leilão do Ministério da Saúde. Com lugar garantido, estável e bem remunerado nas instituições privadas, que médico pretendido-por-meio-mundo ficará preso ao pobre Sistema Nacional de Saúde? O médico idealista existe, mas porque nasceu em berço de ouro. E nesse berço poucos nascem… Raro é aquele que se conformará com um ordenado mínimo quando investiu 12 anos de estudo básico/secundário, 6 duros anos de estudo universitário, e ainda 5-7 anos de especialização. Quem mais perde com isto, é o SNS. Quem mais perde com isto, é o utente pobre.
Eu mesmo começo a abrir os meus horizontes. Mais que nunca, olho o estrangeiro com bons olhos. Olho os privados e as clínicas, porque aí sim, parecem valorizar-nos. Percebo, de certa forma, a necessidade de reduzir custos num SNS doente. Ironicamente, decide-se tirar a qualidade, um dos poucos estandartes de qualidade de vida em Portugal, e optar pela solução mais fácil. Mais que tudo, tenho pena. Porque do futuro… Desse eu não tenho medo. Venha ele, que cá estarei para o receber!
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