Quando olho para o título deste texto, vejo o que os outros não vêm. Isto porque o vejo em bruto, e vocês vêm-no publicado. E o que é que eu vejo que não está presente a vossos olhos?… Vejo uma onda vermelha. Uma linha cheia de altos e baixos subjacente à palavra Selecção. O assinalar de um erro que não existe no meu português. Me desculpem os muito jovens, me desculpem os professores de línguas e os brasileiros, ou qualquer defensor do novo Acordo Ortográfico. O meu português é de Portugal, e não deste Portugal novo. É do Portugal de 92! Ano de tão bela colheita, que desde sempre me deu companheiros que geram elogios, e saudade em cada escola que passo. Já não estranho, de tão habituado que estou, ouvir «Ai que saudades da vossa turma!», «Estes miúdos são cada vez piores», ou «No vosso tempo é que era!». Devo dizer que realmente, pelo pouco que conheço das pessoas deste mundo, 92 foi de facto uma colheita jeitosa. Tenho pena que nem todos triunfemos. Pena que poucos de nós cheguemos onde queremos… Pena que a selecção, hoje em dia, não seja mais natural. Que o Homem tenha vencido as Leis de Darwin não num bom sentido, mas num mau sentido. A cooperação que nos trouxe onde estamos hoje foi a parte boa da guerra contra as leis da natureza. A inteligência, união e habilidade fizeram do Homo Erectus o Homo Sapiens, que cobria as debilidades de uns com a força de outros. Juntos, evoluímos como sociedade em organização, cooperação e estratificação social. Estratificação essa que se baseava, primordialmente, na força. E que se baseou, posteriormente, na capacidade argumentativa ou na criatividade. Hoje em dia, já temos perdido esse modelo, e assentamos no novo modelo de Selecção Humana. Uma selecção que, a meu ver, nos empobrece como espécie.
Hoje em dia quem persiste é quem tem posses. Porque vivem mais tempo, já que a saúde se compra. Porque podem ter os filhos que quiserem e dar o melhor a esses filhos, já que a educação e o crescimento saudável também se compram. Estes filhos por sua vez, bem instruídos e bem cuidados desde nascença, ganham novamente a batalha evolutiva, atraindo parceiros com o seu aspecto bem tratado, posses e boa formação. Não só terão parceiros, como serão mais ricos e terão mais filhos e mais saúde. Deste ciclo vicioso, só um parvo perdulário e gastador pode quebrar a corrente. Basicamente, os mais ricos têm vantagem evolutiva. E irão guiar a nossa espécie, porque serão cada vez mais os seus genes a ser favorecidos. Selecção Natural? Artificial?… Não sei; é Selecção Humana. E devo dizer desde já que este sistema em nada me preocuparia se quem chegasse às mais altas posses e aos mais altos cargos, fossem os mais inteligentes, ou os mais perspicazes, ou os mais ponderados. A espécie, provavelmente, muito teria a ganhar com isso. Infelizmente, não é isto que acontece. Grande parte das pessoas ricas e milionárias dos dias de hoje são pessoas frias e calculistas. Há pessoas vigaristas e falsas, que pisam os outros e se servem deles. Há pessoas mentirosas e oportunistas, ladrões de rua e ladrões da sociedade, pessoas estúpidas com sorte, esbanjadoras e inconsequentes, falsificadoras e manipuladoras. Pessoas totalitárias, pessoas hipócritas que vemos na TV, pessoas do mais baixo que há, porque já não são as virtudes que nos escolhem. É a ralé que nós temos no topo, com (evidentemente) excepções que confirmam a regra. No entanto, é isto que me preocupa. É esta selecção. Este favorecimento de defeitos e falsidades que conduzirão a nossa espécie, cada vez mais, ao defeito e à inveja; a um calculismo que pode separar uma sociedade que vingou por se unir, e pode acabar pendente, junto ao abismo. Quiçá já nós sejamos fruto dessa perversidade, dessa selecção suja e deturpada. Quiçá já tenhamos os genes contaminados com a nova vantagem evolutiva. Quem sabe como serão os nossos filhos, e os filhos deles, e por aí adiante, e qual a geração em que este mundo dirá «basta» a esta espécie.
Não divagues. O mundo acaba em 2012 ;)
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