Olá! De cá do baixo do meu mundo, deste buraco do pecado, saúdo-vos, grandes Deuses. Saúdo Alá e os deuses hindu, os egípcios e os gregos, e também aquele que, tal é suma a sua importância, ousa chamar-se onerosa e simplesmente de Deus.
Escrevo esta carta, que conseguirão ler enquanto a escrevo (não fosse a omnipresença uma qualidade bem porreira), porque estou um pouco desiludido. Vocês, que cada um à sua maneira criou o mundo, manda no mundo e regula o universo, a vida e a morte, não têm feito um trabalho digno dos vossos nomes. Que mundo sujo e deturpado criaram, que espécie dura e egoísta criaram, para no fim a deixar louvar-vos e adorar-vos com um enorme prazer de submissão. Que orgulho vos dá ser adorado por medo, por descarga de consciência, por ânsia de perdão ou pura e simplesmente, tradição? Que prazer obscuro tirais vós de ver estes homens lutar por vossa causa, morrer por vossa causa, e pensar em coisas estúpidas, fúteis e falsas enquanto vos oram e adoram? Mais: que prazer tiram de que a vossa própria criação se alimente de vós para criar novos conflitos, para defender ideais discriminatórios ou até para subir na vida?
Devo dizer que para quem pode fazer o que quiser, escolheram um passatempo bem estranho. Não me vou alongar porque eu sempre faço alguma coisa. Quanto a vós, desfrutem um pouco mais desta telenovela que é o mundo, e tratem de premiar, e não castigar, quem mais merece. Entenda-se que, para mim, quem mais merece não é quem rezou mais avé-marias. Afinal de contas, ainda há quem se preocupe com os Valores só porque acredita neles.
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