Saramago. O virtuoso escritor português, dono de singelo Nobel da Literatura, faleceu este ano, sem esperanças de uma vida continuada. Muita polémica trouxeram as suas obras ‘Memorial do Convento’, ‘Evangelho Segundo Jesus Cristo’, e ‘Caim’, tantas vezes consideradas insultuosas pela Igreja. Abanões que nasceram nos livros e acentuaram uma discussão sobre as questões divinas, juntamente com os escândalos pedófilos dos padres cristãos por esse mundo fora. Uns toquezitos da Ciência apimentaram a discussão, e eis que o mundo se vê a discutir Religião.
É neste contexto de controvérsia e desconfiança face à Igreja, amplamente massificado pelo acesso do Conhecimento a todos os estratos sociais, que surgem, mais recentemente, duas afirmações algo abafadas por alguma comunicação social, que não posso deixar de comentar. O primeiro ponto que pretendo deixar assente, é que não se deve misturar Ciência e Religião, porque, e por muito que se o negue, uma acaba por anular a outra. Assim sendo, apenas posso colocar tais díspares filosofias em dois distintos pedestais. Uma, no patamar do Conhecimento, da Realidade palpável, e do Mundo tal como o conhecemos. A outra, num pódio de Fé, Crenças e Tradições, alicerçado num chão de papel, escrito há já 2 milhares de anos.
Muito poderia dizer sobre o papel de ambas na Sociedade, da sua importância, do seu nascimento, ou da profundidade dos seus fundamentos. Poderia também comentar os erros de ambas ao logo de séculos de existência, mas não é a isso que me proponho neste já longo texto. As já referidas notícias com que me deparei no site da TVI24 diziam respeito a afirmações de representantes de ambos os mundos aqui comparados. A primeira foca-se no Padre brasileiro Luís Lima, que viaja pelo mundo a divulgar a mensagem de aceitação da comunidade católica lésbica e gay, transmitindo que nenhum ser humano é mero hetero ou homossexual, mas antes uma criatura divina. Lima, que procura uma nova concepção de família católica, centrada no Amor e não na Reprodução, disse em entrevista ao JN que foi Deus quem criou o universo homossexual, não podendo a Igreja recusar uma criação do seu próprio Senhor.
Por outro lado, foram pouco divulgadas em Portugal as palavras de Stephen Hawking, físico britânico que é considerado o Homem mais inteligente do Mundo. Hawking disse no programa de Larry King (CNN) que a «teologia é desnecessária», porque a Ciência já consegue explicar os fenómenos de Criação do Universo. Deixando em aberto a para si improvável existência de um Deus, Hawking apresentou a Teoria segundo a qual «dada a existência da gravidade, o universo pode criar-se a si mesmo do nada»; Hawking afirmou ainda que «a Ciência está cada vez mais a responder a questões que eram um território da Religião», diminuindo assim a necessidade teológica nos dias de hoje. Em momentos como este, urge cada vez mais uma leitura metafórica da Bíblia e restantes Livros religiosos, como forma de manter e verosimilhança dos textos ditos sagrados.
Do meio de tudo isto, acaba por nascer em mim uma curiosidade ardente sobre quais serão os próximos capítulos desta longa, quem sabe eterna, dúvida divina. Com todos estes balançares vertiginosos do barco da Igreja, assistiremos em breve a uma Igreja a moldar-se ao mundo moderno, ou a um mundo moderno a engolir uma Igreja clássica, fiel aos seus princípios?… Aqui deste baixo, deste pleno desconhecimento do futuro, ficará esta resposta deixada em aberto, por muitos e longos anos.
Hard stuff
ResponderEliminarNão vejo uma igreja capaz de se moldar ao mundo moderno - à mudança de mentalidade. E sem querer ferir aqueles que têm fé, porque na realidade não o faço, penso que a igreja terá uma motivação para o tentar fazer, a sustentação de uma indústria.
ResponderEliminarMC